Transição harmônica da Educação Infantil para o Ensino Fundamental
Diálogo entre as duas etapas de ensino pode minimizar problemas enfrentados pelas crianças durante o processo
Fonte: Revista Profissão Mestre
Comentários Solar:
O artigo trata da falta de harmonia que pode haver na transição do ensino da Educação Infantil para o Fundamental.
Coloca o problema, em boa parte, nas diferenças curriculares e metodológicas entre as duas etapas educacionais.
A transição do Ensino Fundamental I para o II pode ser mais trabalhosa que a da Educação Infantil para o Fundamental I.
Em Fomento/Solar o problema metodológico inexiste, uma vez que a metodologia do Projeto Optimist continua na primeira fase do Projeto Snipe havendo uma transição suave e gradativa para o fundamental.
No entanto o artigo serve para uma reflexão das transições de etapas educacionais focando na comunicação interna no colégio.
Como ressalta David Isaacs em seu livro “Teoria e prática de direção em centros educativos”, “uma escola gira, sobretudo, em torno das relações humanas: as relações entre professores e alunos, entre professores e pais, entre corpo de direção e professores, etc. Portanto, o tema da comunicação tem especial relevância”.
Isto nos leva a concluir que, a comunicação interna (entre o corpo docente, corpo de direção e corpo docente, corpo docente e funcionários) deve ser sempre aprimorada.
“Em uma escola, a comunicação deve realizar-se em função da melhora pessoal e alheia” com “um aumento de qualidade e unidade durante o transcurso do tempo”.
Porém, pode ocorrer – e frequentemente ocorre, devendo ser sempre corrigido – uma falta de comunicação que pode levar a (grandes) prejuízos para os pais, professores e alunos. Ela pode existir dentro de uma mesma etapa educacional ou na transição entre etapas.
Pode acontecer que a rotina diária dificulte os momentos para troca de informações e experiências.
Por esta razão, deve haver um espaço definido para que essas trocas ocorram. Em uma mesma etapa pedagógica, este espaço pode ser as reuniões de professores ou a intermediação da coordenação pedagógica, alinhando a comunicação.
Ao longo do ano, podem ser úteis as reuniões de planejamento e semanas pedagógicas, definindo diretrizes comuns para regentes e especialistas, ou modos de atuação em casos específicos.
Na transição da criança de um ano para outro, a orientadora passará, da forma mais oportuna, as informações relevantes sobre o processo de ensino aprendizagem de cada aluno para a nova professora, a fim de que se possa dar seguimento ao trabalho desenvolvido.
A comunicação é essencial, também, na passagem de uma etapa para outra. Por isso, ao longo do ano, esse alinhamento também deve ocorrer, facilitando a unidade do ato educativo entre as diferentes etapas.
É claro que todo esse processo, toda a comunicação exige confiança entre as partes.
Isaacs sai de novo ao encontro desse tema dizendo que “a informação traduz-se em comunicação quando tende a produzir unidade entre as pessoas. Em uma escola convém buscar uma zona ampla em que as pessoas possam comunicar, como consequência de ter compartilhado algo valioso para todos (…) e que deve basear-se nos valores que estão recolhidos no ideário ou nos objetivos gerais da escola”.
Essa confiança mútua na equipe docente e de direção gera confiança nos pais e dá-se eficazmente o processo educativo, sem perdas ao longo do tempo.
A transição de uma etapa de ensino para a outra sempre envolve muitos fatores: novos colegas, mais matérias, conteúdos mais avançados, outros professores. Assim, a mudança do ensino infantil para os anos iniciais do ensino fundamental tende a ser bastante traumática, pois, se uma etapa é focada mais na brincadeira, a outra já começa a preparar o aluno para as etapas seguintes de educação. Essa ruptura, na opinião de especialistas, não pode existir, e o trabalho entre os ensinos infantil e fundamental I deve ser mais coeso e unificado. “É um processo caótico, totalmente fragmentado. Não existe interlocução entre os professores do infantil e os do fundamental”, critica Gabriel Junqueira Filho, pedagogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Junqueira afirma que o maior erro está na mudança de concepção da criança de uma etapa para outra: “A educação infantil tem uma especificidade e o fundamental tem outra. Na educação infantil, as pessoas dizem que as crianças precisam brincar porque são crianças e brincar é um jeito que a criança tem de aprender. No fundamental é tudo diferente, porque as crianças param de brincar. Criança é quem tem até 12 anos de idade, mas a escola olha para ela de maneira totalmente diferente no fundamental. É uma concepção de infância totalmente desconsiderada. A partir dos 6, 7 anos, acabou a inocência, a criança já tem responsabilidade”. O pedagogo também acredita que parte do problema vem do próprio Ministério da Educação (MEC), no qual os departamentos do ensino infantil e do fundamental são separados – postura que se alastra até às menores escolas. “Cada um fala do seu lugar, mas esses grupos não se encontram. Já passou da hora desses grupos se juntarem e fazerem um alinhamento até o quinto ano do ensino fundamental”, diz.
Gabriela Medeiros Nogueira, coordenadora do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e pesquisadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação da Infância (Nepe), destaca também as mudanças nos espaços físico e temporal das crianças na escola. “Em geral, a organização do espaço nas salas de educação infantil tem toda uma especificidade, começando pelo tamanho do mobiliário que, de modo geral, é menor do que os convencionais, os cabides para as mochilas que estão na altura das crianças, os espaços organizados em formas de ‘cantos’, por exemplo: o cantinho da leitura, dos brinquedos, do teatro, da cozinha, das almofadas, enfim, os cantinhos variam de acordo com o espaço da sala e a criatividade do professor”, comenta. E acrescenta: “A rotina da educação infantil também é mais flexível em relação aos anos iniciais, e os tempos são diferenciados, pois não há (ou não deveria haver) uma obrigatoriedade em vencer tal conteúdo ou atividade. Em geral, também há mais tempo para atividades no pátio, atividades com brinquedos e atividades em que a criança pode criar e entrar no mundo da imaginação e da fantasia. Do mesmo modo, as diferentes linguagens como a pintura, a modelagem, a expressão corporal, a música e a dança costumam fazer parte da rotina da educação infantil”, relata Gabriela.
Apesar de apontarem os vários problemas, os especialistas concordam que não é possível alcançar uma transição ideal, mas que melhorias podem – e devem – ser feitas. “As secretarias que cuidam disso deveriam pensar tudo em conjunto. Se você pegar as diretrizes do infantil e do fundamental, elas reafirmam a animosidade e a oposição entre um e outro. Portanto, tinha que começar pelo ministério [MEC], para chamar ambos os lados para conversarem e fazerem esse realinhamento. Se o MEC não faz isso, os professores e os gestores de cada lado devem fazer. As equipes que estão trabalhando na escola sabem dessa cisão e também podem fazer esse realinhamento”, afirma Junqueira. Já Gabriela pensa em ações mais práticas, focadas em aumentar a relação e a convivência entre as crianças das duas etapas de ensino. “É importante conhecer o que é próprio de cada etapa e, principalmente, o que é realizado no cotidiano, a fim de se pensar em estratégias que coloquem a criança em primeiro plano. Pensar em ações que envolvam ambas as etapas, para que as crianças possam desde a educação infantil conhecer os espaços e os professores dos anos iniciais do ensino fundamental, e para que as crianças que estão no 1º ou 2º anos possam revisitar os espaços que já passaram e, de certa forma, conviver com os professores anteriores”, explica a pesquisadora.