Não é descabido pensar que a autonomia está no coração de um ambiente escolar personalizado. O sentido de pertença e a ausência de anonimato favorece o sentimento de segurança. A existência de um âmbito real de iniciativa pessoal, assim como o trabalho cooperativo – no qual os alunos e professores desenham, planificam, realizam e avaliam – originam um ambiente escolar personalizado que contribui a que os estudantes vão sendo cada vez mais capazes de se projetar e de atuar de acordo com o próprio critério. Paulatinamente, tornam-se capazes de organizar um plano de atividades até chegar ao desenho e realização de um projeto pessoal de vida no qual utilizem os elementos positivos oferecidos pelo ambiente, ao mesmo tempo que se tem critério e vigor espiritual para afastar os estímulos incompatíveis com a dignidade humana.
A educação personalizada apresenta uma exigência peculiar em relação ao ambiente. Considerando que a abertura é uma das condições da pessoa humana, a abertura do ambiente constitui um fator indispensável para o desenvolvimento pessoal. A educação personalizada exige uma adaptação ao ambiente, mas também um disposição para modificá-lo naqueles aspectos que podem ser melhorados.
Uma pesquisa realizada por McLaughlin[1] no Centro de Pesquisa do Contexto da Educação Secundária da Universidade de Stanford, na Califórnia, sobre a “construção de um ambiente escolar personalizado”, concluiu que a personalização do ambiente implica:
A existência de vínculos pessoais e proximidade entre estudantes e professores (isto é, relações que vão mais além do puramente didático ou técnico)
– O desaparecimento do anonimato na massa escolar;
– A mútua projeção ou reflexo da vida escolar e a vida fora da escola;
– Sentido familiar e peculiar atenção a cada estudante;
– Espírito de iniciativa, flexibilidade e autonomia nos professores e nos estudantes.
A influência das pessoas no ambiente se dá não tanto por atos isolados e esporádicos, mas por condutas habituais (hábitos). São elas que promovem, reforçam ou enfraquecem um estilo de comportamento coletivo. Dito isso, podemos inferir que a possibilidade de modificar o ambiente radica na posse, formação e exercício de alguns hábitos que estejam de acordo com o ambiente que se quer construir.
Uma maneira de criar um ambiente
Lembremos que as ações incidentais refletem a espontaneidade da vida diária. Na medida em que um professor possa usar as ações incidentais disporá de um meio importante para criar e reforçar um ambiente escolar adequado, ao mesmo tempo que contribui à formação de hábitos fundamentais para a pessoa.
Os estudos feitos por García Hoz[2] indicam a existência de três tipos de ações incidentais:
- Ações referidas ao cuidado e uso das coisas: ter a mesa de trabalho em ordem, apenas com o material que se usará; fechar portas e janelas com cuidado; etc.
- Ações referidas ao convívio social: cumprimentar as pessoas; agradecer; falar sem gritar; sabe aceitar a decisão da maioria; etc.
- Ações referidas ao porte pessoal: estar bem vestidos; usar adequadamente os talheres e o guardanapo; etc.
Texto extraído e adaptado de Carrasco, Javaloyes e Calderero Hernández. Cómo personalizar la educación – una solución de futuro, Madrid, Ed. Narcea, 2011
[1] McLaughlin, M. W. et alii, 1990: Constructing a Personalized School Environment, em Phi Delta Kappan, novembro: 220-250).
[2] “Ambiente, organización y diseño educativo”, Tratado de Educación Personalizada, Madrid, Rialp, 1991. vol. 1: 23-24 e 252-254.