Ações de aperfeiçoamento docente

Ações de aperfeiçoamento docente são uma das principais formas de melhorar a aprendizagem

A maioria das atividades de formação continuada com professores no Brasil (70%) tem baixa eficácia, segundo estudo do Instituto Ayrton Senna (IAS) com The Boston Consulting Group (BCG). Cursos de aperfeiçoamento, diz a pesquisa, são uma das principais alavancas para melhorar o desempenho de docentes e alunos.

Comentário Solar:

     O estudo ora apresentado indica que é necessário cuidar da formação de todo os professores, quer os ingressantes na carreira, quer os já experientes, uma vez que a formação deve ser continuada e é um processo lento, que conta com o amadurecimento de cada pessoa e o aprendizado a partir das próprias experiências.

     O estudo indica três estratégias avaliadas como as mais eficazes: tutoria, observação em sala de aula e curso para os professores recentes.

     Dentro do nosso projeto de educação personalizada, a formação dos professores ocupa um papel primordial.

     É tarefa da equipe de direção – diretamente ou através dos coordenadores de cada projeto – ajudar cada professor a melhorar em sua atividade docente, melhorar como pessoa e desenvolver novas habilidades, como por exemplo, capacidade de coordenação, de liderança ou de trabalho em equipe.

     David Isaacs em seu livro “Teoria e prática da direção nos centros educativos” faz ver que “o primeiro passo no aperfeiçoamento dos professores consistirá em proporcionar-lhes diferentes experiências relacionadas com sua própria superação para chegar a conhecer as possibilidades reais de cada um. Podemos dividir o processo de aperfeiçoamento em duas partes: por um lado refletir sobre a superação através de atividades habituais, e por outro, refletir sobre o aperfeiçoamento pessoal através de novas atividades”.

     Entendemos como uma forte atividade habitual – embora periódica – a preceptoria que a equipe de direção realiza com cada professor.

     Cada professor estabelece nessa entrevista o seu plano pessoal de melhora. Esse plano abarcará elementos como capacidade de decisão, congruência entre ser e agir, progresso técnico profissional, capacidade de assumir responsabilidades, etc.

     Além da preceptoria, outra atividade habitual é o estudo dos manuais técnicos dos projetos e outros textos disponibilizados pela equipe de direção. Com isso, procura-se que o professor aproprie-se cada vez mais da razão de ser (intencionalidade) de cada estratégia didática na educação personalizada. Também entra nesse contexto a formação antropológica, fundamento dessa intencionalidade, e a interiorização do ideário da escola.

     Outras atividades que deveriam ser habituais são a troca de experiência com os pares, a observação das aulas dos colegas comentando-as com eles, etc.

     Para que todo esse processo seja possível, é preciso que o professor tenha uma atitude de reflexão sobre sua própria atividade docente e seu papel como educador. “O projeto de educação personalizada supõe um modo distinto de enfocar o processo de ensino-aprendizagem e implica uma atitude de renovação por parte do professor. O projeto só terá garantia de êxito se houver uma autêntica mudança da mentalidade dos professores envolvidos, pois serão eles que concretizarão o projeto no dia a dia de sala de aula. Logicamente, não se trata de mudar por mudar, mas de melhorar constantemente a qualidade da ação educativa diária. Aqueles que têm a arte de ensinar procuram colocar todos os meios ao seu alcance para que seus alunos aprendam e mantenham sempre, em qualquer circunstância, o entusiasmo por aprender” (Manual técnico Projeto Snipe).

     Essa atitude de abertura complementa-se com o esforço por empreender um plano de ação perseguindo as metas que se propôs. Precisa trabalhar com objetivos, pois se não sabe onde deve ir e como deve ir, dificilmente poderá melhorar.

     Além das atividades habituais, Isaacs indica a utilização de novas atividades.

     Deve ser uma preocupação de cada equipe de direção facilitar a assistência a cursos ou conferências que agreguem valor aos professores. Também constitui uma ótima oportunidade o contato com profissionais de outros colégios, bem como experiências de estágios. Uma meta da Solar Colégios é facilitar a realização de estágios no exterior de forma a contribuir com a formação daqueles professores que possam vir a ser multiplicadores do conhecimento adquirido, capacitando outros professores.

     Terminamos com mais uma citação de Isaacs: “de qualquer forma, o mais importante é a atenção que a equipe de direção presta aos seus professores para que escolham bem os meios para seu autoaperfeiçoamento. E, uma vez aprovados pela direção do colégio, se organize bem o tempo de cada um para que seja rentável para o professor e para o colégio”.

Levantamento, realizado com cerca de 3 mil professores, gestores e especialistas brasileiros, indica que esse tipo de formação, voltada a professores que já começaram a lecionar, enfrenta dificuldades para deslocar o foco da teoria para questões reais da sala de aula. Além do déficit de docentes no País, a maioria das redes não tem programas estruturados de formação continuada.

Tutoria com professores mais experientes, formação de ingressantes na carreira e observação crítica da sala de aula estão entre as atividades com melhores resultados, na opinião de especialistas e dos próprios docentes. O estudo revelou, entretanto, que elas são as que menos aparecem no País.

Segundo a analista de projetos da área de Educação e Desenvolvimento do IAS, Daniela Arai, o Brasil é um dos que menos incentivam professores a fazer formação continuada. Ela explica que ações governamentais de curto prazo e alta visibilidade são as mais frequentes, comprometendo um planejamento adequado dos programas. “Formação de professores é investimento de longo prazo. Acaba não sendo a principal preocupação dos governantes”, avalia.

Além da preferência por ações de curto prazo e visibilidade, o estudo menciona cinco principais obstáculos para o êxito da formação continuada. Também pesam a carência de incentivos formais, a escassez de tempo, lacunas e baixa aplicabilidade do conteúdo das ações oferecidas, falta de alinhamento das ações com o plano de carreira do magistério e alta rotatividade do corpo docente.

Com a função de “tapar buracos” da formação original, é para os recém-chegados à sala de aula que as ações podem ser mais efetivas. Não só para ensinar melhores práticas, como manter o interesse no ensino. Segundo Daniela, as redes que trabalharam com ingressantes, em residências e tutorias tiveram impactos significativos.

Experiências. Um dos bons exemplos citados no estudo foi o da rede estadual de Goiás, que em 2011 implementou um programa de tutoria de coordenadores pedagógicos. Com o sucesso da ação, estenderam a proposta para professores de Matemática e Língua Portuguesa do ensino fundamental 2 (6.º ao 9.º ano) e médio, com apoio diário de professores mais experientes. A atividade melhorou os índices de aprendizagem dos alunos entre 2011 e 2013.

“Vale a pena tirar da sala de aula esse ótimo professor. Ele vai acompanhar dez, 15 professores e influenciar mais alunos. Ele é a referência e tem legitimidade para influenciar os pares”, explica Ralph Gomes Alves, da Superintendência de Inteligência Pedagógica e Formação da rede goiana.

A professora Núbia Oliveira, tutora diária de Matemática, está em treinamento para a função desde 2011 e acompanha professores de seis escolas de Goiás. No início, ela encontrou receio dos professores para atividades, como a observação de aulas. Mas hoje, com o amadurecimento do projeto, há professores de outras disciplinas ou etapas do ensino que a procuram por ajuda.

“Um dos primeiros pontos de dificuldade é que o professor não sabe planejar”, aponta Núbia, que dá aulas há 18 anos. “Ele foi preparado para uma sala homogênea, mas na execução encontra salas lotadas, alunos com muitas dificuldades.” No caso dos docentes antigos, o desafio é maior. “É difícil mudar uma mentalidade errada mantida por anos.” Entre as atividades desenvolvidas na formação, estão a escuta ativa, em que se ouve demandas de professores para cada tipo de sala de aula, e o acompanhamento in loco.

BÁRBARA FERREIRA SANTOS, VICTOR VIEIRA – O ESTADO DE S. PAULO

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