À procura de um novo modelo

Grupo de pais do DF investe em metodologia de ensino espanhola com o objetivo de participar mais da formação escolar dos filhos.

Educar bem os filhos e prepará-los para serem cidadãos que contribuam para a sociedade em que vivem é o desafio de qualquer família. Nessa tarefa, elas contam com o auxílio essencial da escola. Foi em busca de uma instituição que valorizasse essa parceria que um grupo de pais de Brasília decidiu abrir uma escola que permitisse essa interação, baseada no método espanhol de educação personalizada.

Soraya Carvalho, 39 anos, faz parte do grupo de seis pais, todos voluntários, que criaram a Associação Brasiliense de Educação Personalizada (Abep), mantenedora da Escola Viraventos, na entrequadra 204/404 Sul. “O que nos motivou foi a constatação coletiva de que a gente não encontrava nas escolas a parceria para a nossa missão educadora como pais”, avalia. Ela tem dois filhos e afirma que não havia encontrado, até o momento, uma instituição que permitisse uma parceria significativa com a família e que contribuísse de maneira satisfatória para a missão educativa dela. “Nós, pais, não somos bem-vindos. Eles (a direção) entendem que a gente só vai à escola para reclamar”, relata.

Ao conhecer o modelo implantado no Rio de Janeiro, na Escola Porto Real, Soraya se identificou e, com os outros pais da associação, se interessou em trazer a educação personalizada para Brasília. Um dos elementos que mais chamaram a atenção dela foi o trabalho de orientação familiar oferecido pelo colégio, com palestras sobre autoridade, sobre como lidar com as birras e com o ciúme dos irmãos, e conselhos sobre o momento de deixar de usar as fraldas, por exemplo. “Nossa escola é para quem quer se comprometer com a educação dos filhos. Para isso, temos todo um programa de orientação familiar”, relata.

As atividades da Escola Viraventos de Educação Infantil começarão no ano que vem, com turmas de meio período e integrais para alunos de um a quatro anos. A intenção é atender a toda essa etapa do ensino — até cinco anos — em 2017. A metodologia em que se embasa o projeto pedagógico do colégio é a da educação personalizada, desenvolvida pelo pedagogo espanhol Víctor García Hoz, e que foi implantada na Espanha há 50 anos. No Brasil, outras 11 escolas em sete cidades já estão em funcionamento — todas sem fins lucrativos.

As instituições têm assessoria pedagógica da Solar Colégios, responsável pelo projeto pedagógico e pelo material didático específico para a educação infantil. Os pais participam de formações mensais, com temas relacionados ao desenvolvimento da criança, e das preceptorias, que são encontros entre eles e a professora da turma que ocorrem quatro vezes ao ano. É por meio dessas reuniões que o colégio proporciona o acompanhamento individual do aluno, com um projeto educativo familiar em que é traçado um plano pessoal de melhora (PPM) com a participação da família.

Protagonismo

“O modelo de educação personalizada tem como princípio a família e a escola caminhando juntas. Nós precisamos que a família também esteja nessa parceria conosco. Acreditamos que o protagonismo da educação é dos pais. São eles que definem como será o projeto educativo dos filhos. A escola entra como uma colaboradora”, explica a diretora da escola, Gisela Rojas.

Segundo ela, a premissa básica do projeto é a formação integral da pessoa em suas cinco dimensões: física, por meio da estimulação motora; intelectual, relativa à aprendizagem propriamente dita; vontade, ligada aos bons hábitos e às virtudes; afetividade, que trabalha o lado emocional, a socialização e a autoestima; e a transcendência, que se refere à abertura a Deus e ao outro. Gisela detalha que a escola tem orientação católica, mas é laica e não tem ligação com qualquer instituição religiosa.

Para garantir que o processo educativo alcance os objetivos definidos na proposta do colégio, são usados os conceitos que se apoiam na educação oportuna e na educação positiva. A primeira aproveita os períodos sensitivos de aprendizagem para estimular os potenciais a serem desenvolvidos em cada etapa do desenvolvimento da criança, por meio, por exemplo, de circuitos psicomotores diários e audições musicais, que favorecem a concentração, a memória e a aquisição de um novo idioma.

A educação positiva, por sua vez, trabalha os bons hábitos e estimula a aquisição de virtudes, embasando-se em atitudes que incentivam a criança a seguir no caminho certo quando desempenha bem uma tarefa e conversando para corrigi-la ou motivá-la a melhorar quando ela desobedece alguma regra ou não consegue alcançar o resultado desejado. “É muito mais do que passar no Enem, é você formar uma pessoa para contribuir positivamente para a sociedade. É nisso que nós acreditamos”, finaliza Gisela.

Por  Mariana Niederauer
Via Correio Braziliense

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