Publicado em 14 de março de 2013 por William R. Klemm, D.V.M, Ph.D. em Memory Medic
Você, alguma vez, já tentou ler as prescrições de seu médico? Com frequência, as crianças escrevem com letra bastão porque não sabem escrever em letra cursiva, ou porque sua letra é ilegível. Tenho um neto que vai para o ensino fundamental e lhe custa entender sua própria letra. Os avós se encontram em uma realidade em que seus netos são incapazes de ler o eles lhes que escrevem.
O novo Secretário da Fazenda dos EE.UU não sabe (ou simplesmente não o fez) escrever seu próprio nome na nova moeda que será emitida.
Quando nós, os adultos, íamos a escola, uma das primeiras coisas que aprendíamos era como escrever o alfabeto em letras maiúsculas e minúsculas e, logo, como escrever palavras, frases, parágrafos e escritas a mão. Alguns de nós tivemos a sorte de ter aulas de caligrafia, onde aprendíamos como conseguir que nossa escrita ficasse linda e legível. Atualmente, a escrita no teclado está na moda e os Padrões Educativos nos EE.UU já não requerem que os estudantes do ensino fundamental I, aprendam a escrever em letra cursiva. Alguns colégios, desprezam este ensinamento porque a consideram uma “habilidade do passado”. [1]
Segundo Zaner-Bloser Inc., um dos editorais do país especializados em escrita manuscrita, o ensino da escrita em letra cursiva nas escolas de ensino fundamental I, supõe um pouco mais do que uma hora semanal. A escrita em letra cursiva, geralmente, não é ensinada depois do quarto ano (eu tinha aulas de caligrafia no 7.º ano; e o melhor é a coincidência, porque foi no sétimo ano que, magicamente, passei de ser um estudante medíocre para um aluno excepcional).
Sem dúvida, os estudos científicos estão descobrindo que a aprendizagem da letra cursiva é uma ferramenta crucial para o desenvolvimento cognitivo, particularmente para treinar o cérebro desde o ponto de vista da “especialização por áreas do cérebro” [2], isto é, de um ótimo rendimento. Mediante a aprendizagem da escrita em letra cursiva, o cérebro desenvolve uma especialização por áreas que integra a sensação, o controle do movimento e o raciocínio. A diferença da escrita no teclado e a prática visual, segundo estudos de tomografia do cérebro, diversas áreas do cérebro se co-ativam durante a aprendizagem da escrita em cursiva.
Existe um benefício externo para a habilidade de raciocínio que é utilizado na leitura e escrita. Para escrever com uma letra cursiva legível, é necessário um certo nível de controle da motricidade fina sobre os dedos. Os alunos devem prestar atenção e pensar no que estão fazendo. Têm que praticar. Estudos com tomografia cerebrais revelam que a cursiva ativa áreas do cérebro que não estão envolvidas quando se escreve no teclado.
Em geral, muitos benefícios de escrever a mão derivam simplesmente da mecânica de traçar as letras. Durante um estudo realizado na Universidade de Indiana e que será publicado este ano [3], investigadores analisaram, mediante imagens de ressonância magnética, crianças de 5 anos de idade, pré-alfabetizadas antes e depois que tiveram a aprendizagem na cursiva. Nas crianças que haviam praticado a escrita à mão, a atividade neuronal foi muito mais destacada e similar a dos adultos, do que a das crianças que simplesmente observaram as letras. O “circuito de leitura” no cérebro, o circuito de áreas associadas que são ativadas durante a leitura, foram ativadas ao traçar a escrita manuscrita, e não ao escrever sobre o teclado. Da mesma maneira, esta investigação demonstrou que escrever letras em um contexto significativo contraposto ao de só desenhá-las, ativa de forma mais sólida diversas áreas nos dois hemisférios.
Ao aprender a escrita manuscrita, mesmo que se trate da escrita em letra bastão, o cérebro de uma criança deverá:
- Distinguir cada traço em relação aos outros.
- Aprender e memorizar o tamanho adequado, a forma global e a característica detalhada dos traços de cada letra.
- Desenvolver habilidades de categorização.
A escrita em letra cursiva traz consigo mais benefícios que a letra bastão, já que os movimentos são mais difíceis, as letras menos estereotipadas e a necessidade do reconhecimento visual cria uma maior variedade de formas de representar as letras. Além do mais, a letra cursiva é mais rápida e mais atrativa para os estudantes já que lhes dá um maior sentido de estilo pessoal e pertinência.
Outro estudo destacou a relação exclusiva que existe entre a mão e o cérebro na hora de pensar e ter ideias. Virginia Berninger, uma professora da Universidade de Washington, deu a conhecer seus estudos sobre crianças no primeiro, segundo, quarto e sexto ano, no qual revelava que as crianças escreviam mais palavras, de forma mais rápida e expressavam melhor as ideias, quando escreviam a mão do que quando escreviam no teclado. [4]
Existe todo um campo de investigação conhecido como “háptica” que compreende as interações do tato, movimentos da mão e funções do cérebro. [5] A escrita em letra cursiva ajuda a treinar o cérebro com o fim de integrar a informação visual e tátil assim como também a habilidade motora fina. Vem acontecendo uma obsessão, por conta de ideólogos desinformados e de instruções federais, para os sistemas educativos avaliarem conhecimentos, à custa de treinamento das crianças, para que desenvolvam uma melhor capacidade de adquirir os conhecimentos.
Os benefícios para o desenvolvimento cerebral, são similares ao que se obtém quando se aprende a tocar um instrumento musical. Nem todos podem pagar aulas de música, mas todos podem ter acesso ao lápis e papel. Nem todos podem comprar um computador para seus filhos (o que nos leva a pensar que estas crianças não são tão desafortunadas como cremos).
Não nos desanimemos. No dia 23 de janeiro, alguns colégios dos EE.UU celebram o “Dia nacional da escrita em cursiva”. A letra cursiva ainda segue viva. É necessário que os pais insistam para que se continue a ensiná-la nas escolas.
Aos leitores que desejarem obter informação básica acerca da neurociência pode lhes interessar saber sobre a segunda edição do meu livro eletrônico “Coreidas in Neuroscience” (em inglês). Mais informações na minha página web http://thankyoubrain.com/neurobook
Também podem acessar o grupo de discussão em inglês Neuro-educationque no LinkedIn (deverá escrever “Neuro-education” no campo de busca do Linkedin).
[1]Slape, L. “Cursive Giving Way to Other Pursuits as Educators Debate Its Value. ” The Daily News, 4 defeb, 2012.http://tdn.com/news/local/cursive-giving-way-to-other-pursuits-as…
[2] James, Karin H. an Atwood, Thea P. (2009). The role of sensorimotor learning in the perception of letter-like forms: Tracking the causes of neural specialization for letters. Cognitive Neuropsychology.26 (1), 91-100.
[3] James, K.H. and Engelhardt, L. (2013). The effects of handwriting experience on functional brain development in pre-literate children. Trends in Neuroscience and Education.Article in press.
[4]Berninger, V. “Evidence-Based, Developmentally Appropriate Writing Skills K–5: Teaching the Orthographic Loop of Working Memory to Write Letters So Developing Writers Can Spell Words and Express Ideas.” Presented at Handwriting in the 21st Century?: An Educational Summit, Washington, D.C., 23 de enero, 2012.
[5]Mangen, A., and Velay, J. –L. (2010). Digitizing literacy: reflections on the haptics of writing.In Advances in Haptics, edited by M. H. Zadeh.http://www.intechopen.com/books/advances-in-haptics/digitizing-li….
Artigo original: http://www.psychologytoday.com/blog/memory-medic/201303/what-learning-cursive-does-your-brain