O grande mérito do novo ensino médio está em sua plasticidade, em se desvencilhar das velhas amarras e avançar por novas trilhas.
02/11/2016 – 16h12
Maria Judith Sucupira Lins, O Globo
O desenvolvimento integral da pessoa é uma das finalidades primordiais da escola e, para que isso aconteça, estruturas de sistema de ensino e medidas curriculares têm que ser pensadas e renovadas. No ensino médio estão os adolescentes, cada um a seu modo, buscando se conhecer e entender o mundo, frequentando uma escola que nem sempre está adequada às necessidades desse momento.
A diversidade do ser humano é uma de suas riquezas fundamentais. Como podemos, então, oferecer apenas um modelo rígido para todas as escolas? Desde a primeira Lei de Diretrizes e Bases, em 1961, estiveram abertas as possibilidades de inovação quanto à prática educacional; estas, no entanto, não se concretizaram. A situação desastrosa em que se encontra a educação brasileira, principalmente o ensino médio, exige transformações que levem a melhores resultados quanto à formação total dos alunos.
A pedagogia do respeito entende que o jovem precisa ver correspondidas as suas características, os seus interesses e as suas capacidades. E, a nosso ver, o novo ensino médio pode lhe proporcionar isso. A personalidade irrepetível e única de cada pessoa não pode ser massacrada por um tipo de ensino médio único que está calcado em um aluno mediano fantasma. A flexibilização curricular enriquece a construção cognitiva, social, moral e afetiva de cada aluno para que se torne um cidadão ético, participativo e consciente.
Certamente que a proposta precisa ser debatida por especialistas, e sempre haverá perspectivas de ser melhorada. No entanto, o grande mérito do novo ensino médio está em sua plasticidade, em se desvencilhar das velhas amarras e avançar por novas trilhas. Na sociedade em que vivemos, a escola não pode competir com um mundo tecnológico que fascina o jovem e sobre o qual ele age com destreza. Necessitamos de uma escola atraente, que faça o aluno desejar permanecer no sistema, uma escola na qual ele veja um sentido para sua vida.
A elevada taxa de evasão no ensino médio é uma triste realidade e, ao mesmo tempo, um indicativo de que a escola, tal como se apresenta atualmente, não está satisfatória. A reflexão sobre quais os procedimentos que podem melhorar o ensino médio tem como base uma modificação substancial no currículo rígido que observamos hoje nas escolas. Estamos diante de uma proposta que nos aponta diversos caminhos.
A discussão está aberta, e o debate se faz necessário para que possamos oferecer aos adolescentes uma escola de qualidade que não esteja distanciada de sua pessoa. Cada aluno é uma pessoa especial e, pensar na manutenção de um ensino médio que não o respeita é impedir o pleno desabrochar de suas potencialidades. A permanência do adolescente por um tempo mais longo na escola pode lhe proporcionar condições mais saudáveis de vida e vai lhe oferecer instrumentos para a sua inserção na sociedade como adulto.
Vivemos hoje uma acelerada transformação de conhecimentos, uma avalanche de novas informações e uma integração de saberes que não justificam a estratificação absoluta das disciplinas escolares. Ao núcleo comum do currículo serão acrescentadas alternativas que favoreçam a formação de cada aluno enquanto pessoa em sua dignidade e suas peculiaridades. A progressiva autonomia que o jovem deve conquistar depende também da escola que não o trate como um sujeito passivo, impondo-lhe tudo que deve estudar.
Cada aluno precisa ver contemplado pela escola o seu próprio projeto de vida, e esse é um dos aspectos que se destaca no texto que reconsidera o ensino médio. Pode não ser um sistema perfeito, mas é algo que aponta para uma luz no final do túnel e que nos traz esperança de vermos uma escola renovada e capaz de respeitar a pessoa do adolescente que busca sua identidade.
Maria Judith Sucupira Lins é professora da Faculdade de Educação da UFRJ