Seu filho se sente desconfortável em grupo ou diante de situações novas? Você não precisa se preocupar tanto. Essa timidez mais ou menos aparente requer apenas alguma atenção e suporte
Américo tem 6 anos e acaba de entrar na primeira série. Ele sonha em ser jogador de futebol profissional, mas na hora do recreio prefere ver os outros jogarem. “Eu não corro rápido o suficiente”, explica ele à mãe, Priscilla, enquanto fala apaixonadamente sobre o jogo quando chega em casa. “Ele é falante, às vezes até demais, com pessoas que conhece bem”, diz ela, “ele é um garotinho feliz, descontraído e apreciado pelos amigos. No entanto, ele passou seus três anos do jardim de infância sem abrir os lábios. Recentemente, “ele levantou o dedo e participou da aula, fiquei muito feliz e surpresa quando sua professora me disse isso”. Atenta ao comportamento de Américo sem dramatizar, Priscilla atribui sua timidez a vários fatores: “Quando eu era jovem, meu marido também era visto como tímido, mas não se incomodava. Ele apenas preferia observar”. Um temperamento talvez acentuado pelo fato de ele ter ficado muito tempo sozinho com uma babá, analisa a mãe, que às vezes fica com o coração apertado ao ver o filho em dificuldade.
Catherine Nivet, professora há 30 anos em um jardim de infância de médio porte, recebe todos os anos crianças tímidas em sua sala de aula. Ela mostra que é importante fazer a diferença entre a criança reservada e a criança tímida. “O primeiro, por temperamento, não se abre ao primeiro contato, ou precisa de um tempo de observação para estabelecer um bom relacionamento. O segundo vai realmente se esconder, se fazer muito pequeno, como se quisesse desaparecer, por medo da imagem que os outros vão ter dele, ou medo de fazer as coisas de “forma errada”. Como pais, como encontrar a atitude certa a tomar, quando seu filho prefere sempre ficar no seu cantinho enquanto os outros brincam juntos, quando tem dificuldades em cumprimentar, ou quando entra em crise com situações comuns do dia a dia, enquanto em casa seu comportamento é bem diferente?
Não entre em pânico e preste atenção aos pequenos sinais
“Tento o máximo possível evitar apressá-lo”, disse Priscilla. Mais do que ordens para começar, para brincar com os outros, ela prefere tranquilizá-lo e dar-lhe confiança, convencida de que a timidez é um sintoma de ansiedade: “Sei que os rituais são muito importantes para ele, então eu tenho cuidado para não esquecer o abraço matinal quando o deixo na escola, porque sei que a manhã dele depende disso. Ela tem cuidado, no entanto, para que seu filho não se prenda a esse personagem infantil tímido, pois ela sente que ele pode viver a tentação de se manter sempre em sua zona de conforto.
Catherine Nivet aconselha os pais a não entrarem em pânico e a estarem atentos aos pequenos sinais que demonstram que o filho está bem: “Quando o observamos sem que ele perceba, sempre há um momento em que o filho relaxa e volta a ser ele mesmo. É nesse momento que você pode encorajá-lo e descobrir o que o agrada. Acredito que seja bom induzir momentos de que a criança goste, como ler, praticar esportes, desenhar ou qualquer outra atividade em que ela se sinta à vontade para se expressar. Aos poucos, ela vai se conhecendo e se amando”. Através do olhar atencioso de seus pais, as crianças tímidas precisam “saber que cada pessoa tem sua contribuição a dar ao mundo; cada pessoa é importante e possui coisas que pode contribuir com os outros”.
Saia das projeções que você faz sobre seu filho
E se o cuidado com seu filho começasse com um cuidado sobre você mesmo? Anne-Astrid está convencida disso. Seu filho mais velho tem 7 anos e “gesticula, morde a manga da sua camisa e dificilmente olha nos olhos de outras pessoas”. “Tenho notado que muitas das crianças tímidas que conheço são irmãos mais velhos. Talvez, inconscientemente, tenhamos colocado muita pressão sobre eles”, afirma. “Todos nós queremos que nosso filho tenha uma boa aparência, que converse com os outros… Mas tenho percebido que é melhor manter certa distância, mesmo que os outros julguem como falta de educação. O essencial que o ajudará a crescer é o amor que damos a ele, sem julgamentos”.
Sair das projeções que fazemos sobre os próprios filhos é também o esforço de Helena, mãe de três filhos, dois dos quais têm “dificuldade em se aproximar de outras pessoas, trabalhar em grupo e falar durante a aula”. “No início, achei difícil aceitar isso”, diz ela. Então, senti que fui tomada por esse pensamento penetrante, que inclina os adultos a ser mais tocados por crianças ousadas, até mesmo insolentes, do que por crianças mais discretas. Entre os adultos, existem os líderes e os não-líderes. Por que não podemos admitir o mesmo para as crianças?”. Helena conversa muito com os filhos: “Procuramos colocar em palavras os nossos medos. Falamos e rimos dessas coisas, sem tabus! Como a timidez também é um sintoma da falta de autoestima, ela diz aos filhos: “Vocês não são o que os outros pensam de vocês“. Ela se sente confiante de que o temperamento reservado de seus filhos tem muitos aspectos positivos: “Graças às conversas que temos em família, espero que eles ganhem liberdade de espírito e saibam que ninguém nunca deve ser reduzido ao que se pensa dele”.
Edifa – Sophie le Pivain
https://pt.aleteia.org/cp1/2020/12/21/seu-filho-e-timido-veja-como-voce-pode-ajudar/