O Colégio Fuenllana de Alcorcón, em Madri, mais uma vez ficou em primeiro lugar, à frente dos demais colégios, de acordo com a OCDE (Organización para la Cooperación y el Desarollo Económicos), com 542 pontos, sendo a média espanhola 496
Irene se levanta e toma a palavra. Está na aula de oratória, no 3º ano do ESO (que corresponde ao 8º ano do Ensino Fundamental II no Brasil), rodeada por duas dúzias de colegas, duas professoras e um crucifixo. No fundo da sala, ela percebe um público inesperado e titubeia. A insegurança dura apenas um segundo. Firma os pés no chão, arruma um pouco a saia de xadrez, a blusa e começa a falar. O tema de hoje: As religiões do mundo. Após a hesitação inicial, vai em frente.
É aluna do Colégio Fuenllana de Alcorcón, o colégio bilíngue que, de acordo com o ‘boletim PISA para colégios’ da OCDE, foi novamente classificado como o melhor colégio espanhol. As provas, que foram realizadas no mês de fevereiro deste ano, entre as alunas de 15 anos, como Irene, podem ser comparadas com os resultados do último PISA a nível mundial, no qual, Finlândia, Coreia, Singapura e Japão obtiveram as melhores pontuações. Enquanto a média na Espanha foi 496 pontos, o Colégio Fuenllana obteve 542.
María Ruiz, diretora do colégio, sorri sob a máscara e tenta tirar a importância do fato, comentando ao repórter do EL ESPAÑOL “Estamos orgulhosas, mas não é para tanto”. “A chave para esses resultados é que oferecemos um projeto contínuo, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio”, resume.
O método, porém, vai mais além e se apoia também em outros pilares, como a educação single sex e a importância do ensino religioso, não tanto como doutrina, mas como transmissão de valores. Os resultados saltam à vista: o melhor colégio da Espanha, apesar dos seus poucos 15 anos de vida.
No total, são mais de 25.500 metros quadrados distribuídos entre seis edifícios, 1.560 alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e um sistema de preceptoria, que oferece orientação e um acompanhamento individualizado, também nos valores cristãos promovidos pelo Opus Dei.
“Porém, isso não significa que seja excludente”, esclarece Ruiz. “É verdade que há aulas de catequese e preparamos para a primeira comunhão, mas ninguém é excluído. Temos alunos e pais de outras religiões, que não são batizados…e não há problema. Nosso trabalho do dia a dia está impregnado de humanismo cristão, e é somente isso”. E ao final acrescenta, “fomos eleitos pela qualidade da educação que promovemos”.
Os resultados são uma prova de excelência, fruto de uma preparação que começa desde que as crianças entram para o colégio, por meio de um currículo inter-relacionado. “É uma formação contínua”, comenta Ruiz.
Nas aulas da Educação Infantil, meninos e meninas estão estudando os tipos de animais. Rodrigo, de cinco anos, quer ser cientista e isso logo se percebe. Sentado no chão, com a cabeça baixa, um pouco tímido pelo público inesperado, recita de memória as famílias dos invertebrados, que o próprio repórter nunca havia escutado antes. Um por um, completa a lista. Nada como um passeio com as crianças para trazer um pouco de humildade ao escritor…
Educação Single Sex
As coisas mudam a partir do Ensino Fundamental I. A partir daí o colégio aposta na educação single sex e os meninos vão para o Colégio Andel, a poucos metros dali. Isso, como se pode deduzir, influi nos resultados.
“Não será nenhuma novidade, afirmarmos que as meninas têm melhores notas que os meninos. ” Afirma Maria Ruiz.
“Melhor desempenho nos estudos, certamente. Por outro lado, a convivência entre meninas pode ser mais complicada, por exemplo. Cada uma tem suas características, não somos clones…. Mas considero positiva a educação single sex, para que amadureçam suas competências e capacidades individualmente, sem a presença dos meninos na sala de aula. ”
Prova disso é a taxa de idoneidade aos 15 anos, isto é, quem conclui o Ensino Obrigatório sem repetir nenhum ano. Nessa idade, a diferença entre homens e mulheres é de 8,6 pontos, quase 10%, o que também tem um papel importante no momento de avaliar colégios de educação single sex. Que sejam somente meninas em Fuenllana é um fator que certamente contribui para melhores resultados, mas há mais.
O papel que a religião tem no funcionamento do colégio, se sobressai como um fator crucial.
No início de um recreio, às 10h30 da manhã, um grupo de jovens se reúne em volta de uma imagem da Virgem Maria. É o mês de maio, o mês dela e, tanto à volta da imagem, como no oratório, há muitas alunas. A formação cristã, insiste Ruiz, é a inspiração para todo o colégio.
“O lema é educação 360º porque é uma educação integral, completa, bilíngue e personalizada. Não formamos apenas alunos, formamos pessoas”.
A relação professor-aluno que, como afirma o PISA, tem muita influência nos resultados, mostra-se ainda mais forte no colégio Fuenllana.
Cada aluna tem uma tutora pessoal, designada desde seu ingresso no colégio, uma professora que irá acompanhá-la em cada etapa como uma orientadora e intermediária entre a família e o colégio. “A tutora se encarrega de realizar um acompanhamento das alunas nas aulas e em tudo o mais que necessite”, explica Ruiz.
Inteligências Múltiplas
Ao contrário do que possa parecer, o colégio não dispõe de metodologias próprias para atingir a excelência, mas se baseia nas inteligências múltiplas, por meio do desenvolvimento de projetos.
Nesse caso, o colégio fomenta um Programa de Desenvolvimento da Inteligência Emocional e Criativa, promovendo a comunicação e a melhoria da convivência e forma parte da rede de Centros de Educação Responsável da Fundação Botín.
Em um pavilhão, por exemplo, improvisaram um curso de robótica para alunas do Ensino Fundamental I que, com 11 anos, já podem se orgulhar do projeto de seu próprio carro elétrico.
Em resumo: suas alunas se destacam em leitura, matemática e ciências, com relação a outros colégios, não somente na Espanha, mas também em nível internacional. Em comparação com a Finlândia, a referência europeia em temas de ensino, Fuenllana continua se saindo bem e supera a média do país no relatório PISA, tanto em suas atitudes em relação à aprendizagem quanto em qualidade do ambiente escolar.
Os resultados
Em leitura, o desempenho médio das estudantes de Fuenllana é de 542 pontos, que é significativamente mais alta que a média de rendimento de 496 pontos obtida pelos estudantes em toda a Espanha na avaliação PISA 2015 e da média dos países da OCDE (487 pontos) no PISA 2018.
Em matemática, a média do colégio ficou em 512 pontos, 40 pontos acima dos estudantes espanhóis na avaliação PISAM 2018 (481 pontos) e dos países da OCDE (489 pontos).
Por último, em ciências, a média de desempenho de Fuenllana foi de 499 pontos, um tanto superior aos 483 pontos obtidos de média pelo conjunto da Espanha no PISA 2018. Também acima da média dos países da OCDE (489 pontos).