Os filhos têm que ser preparados para enfrentar sozinhos os problemas da vida e aprender a resolvê-los
Um ensinamento que a Bíblia e a psicologia dão aos pais é este: “Aquele que estraga seus filhos com mimos terá que lhes curar as feridas” (Eclo 30,7).
Mimar o filho é dar a ele tudo o que ele quer, é não saber pôr limites às suas exigências; é fazer por ele aquilo que ele deveria fazer por si mesmo. É dar a ele uma porção de coisas que não precisa.
A palavra de Deus é forte: tal prática “estraga” o filho, e mais tarde teremos que lhes curar as feridas.
A razão disso é que o filho, mimado na infância e na adolescência, cresce pensando que o mundo lhe pertence e que todos devem fazer a “sua” vontade. Eles se tornam egoístas e egocêntricos; querem o mundo girando em torno deles. É por isso que muitos adultos não sabem respeitar a vontade dos outros; foram criados como reizinhos, os quais todos faziam suas vontades; só faltando incensá-los. Assim, quando cresce, o jovem percebe que a realidade da vida é outra bem diferente, então se revolta contra os pais, contra as autoridades, contra Deus, e acha que todos são injustos com ele.
Este fenômeno está cada vez mais comum: as “crianças hiperprotegidas”, seus pais os mantêm em um ambiente como de “plantas de inverno”. Evitam qualquer tipo de risco ou qualquer atividade que cause certo esforço para eles. São crianças praticamente proibidas de sair sozinhas na rua, com uma vida, depois do colégio, perfeitamente organizada com diversas aulas, que compram tudo o que veem nos anúncios da televisão, comem só o que querem, e não o que devem, e fazem só o que lhes dá vontade e prazer.
Baixa autoestima
Essas crianças podem até serem obedientes e comportadas enquanto a vida não exige mais delas. Mas, com o tempo, começam a se sentir incapazes de alcançar bons resultados nas atividades. Elas são semelhantes àquelas que não foram educadas: têm baixa autoestima: são movidos por impulsos mais do que por convicção; toleram mal a frustração e buscam satisfações imediatas; não sabem enfrentar os problemas, fogem deles; não aprenderam a arcar com as consequências dos próprios atos; estão acostumadas às soluções fáceis…
Em resumo, são imaturos. E o mais perigoso de tudo isso é que estes meninos e meninas têm mais facilidade para deixarem-se levar pelas más amizades, ou pelo ambiente que os rodeiam, e adquirindo assim vícios e maus comportamentos.
Os pais precisam deixar os filhos se “arriscarem”. Se não for perigoso para sua saúde física ou moral, deixe que fracassem alguma vez; que aprendam a respeitar as regras e reconheçam a autoridade; que resolvam eles mesmos seus pequenos problemas; que ajudem em casa e não se tornem pequenos tiranos. Deixem-os ir amadurecendo de acordo com sua idade de modo que possam, pouco a pouco, serem mais e mais livres, e caminhar com as próprias pernas.
Os pais precisam deixar de ser ingênuos e ficar pensando que o filho é incapaz de ser influenciado negativamente pelos amigos; precisam deixar de ser cegos, e não ver a tempo ou não querer ver que seu filho está adquirindo maus hábitos.
Os pais não podem ser apenas provedores materiais dos filhos. Não podem ser permissivos, achando que os filhos têm o direito de ter tudo o que ele não teve.
Responsabilidades
Os filhos têm que ser preparados para enfrentar sozinhos os problemas da vida e aprender a resolvê-los, e estarem prontos para assumir responsabilidades. Sem isto não haverá um bom futuro para eles. Para isto é preciso educar-lhes a vontade e ensinar-lhes a administrar a liberdade, a ser responsáveis pelos seus atos, e aprender a lutar para alcançar os bens difíceis.
Uma criança e um adolescente superprotegidos não adquirem os “anticorpos” para enfrentar os problemas da vida. Pelo fato de não terem conseguido o sucesso com suas lutas, podem se sentir com baixa estima, hoje tão comum. Muitos deles não sabem trabalhar as perdas, os fracassos, os problemas normais da idade e da vida, algumas vezes, caem até em depressão por causa disso. Às vezes, se desesperam diante de problemas que outros jovens de sua idade resolvem com facilidade. Enfim, não foram preparados para o combate da vida.
São jovens que, quase sempre, querem uma satisfação imediata em tudo o que fazem; não têm paciência de plantar para colher mais tarde. São imediatistas, pragmáticos, querem soluções fáceis e rápidas para problemas difíceis. Não conseguem cultivar bons hábitos e disciplina, horários, compromissos, etc. O filho mimado e superprotegido pelos pais, não aprende o valor do trabalho, do estudo, da solidariedade com os que sofrem, é dominado pelo amor próprio, egoísmo e egocentrismo; o mundo gira em torno dele. Sobretudo cultiva a autopiedade e a mania de perseguição. Sente-se uma vítima injustiçada por qualquer contrariedade.
Fechar os olhos
Não faça para o seu filho o que ele pode fazer por si mesmo; deixe-o andar com as próprias pernas, ainda que ele tenha que levar vários tombos até aprender.
Os pais não podem também fechar os olhos para os erros dos filhos ou até mesmo, como alguns fazem, achar graça nisso.
A Bíblia chama a atenção dos pais para isso:
“Adula o teu filho e ele te causará medo, brinca com ele e ele te causará desgosto” (Eclo 30,9).
Adular é bajular, agradar e elogiar em excesso, colocar o filho numa posição de destaque exagerado, como se fosse o melhor do mundo, sem perceber que ele também precisa da correção. Como a criança aprende mais por imitação do que por reflexão, o filho que é bajulado aprende a bajular, o que é péssimo para o seu futuro. Aquele que sabe adular, sabe também caluniar. Coelho Neto disse que “quem sobe por bajulação sempre deixa um rastro de humilhação”. Muitos, infelizmente, aceitam até rastejar para conseguir os seus interesses escusos; não devem reclamar se por acaso forem pisados por alguém.
Não queira isto para os seus filhos. É próprio do escravo ter um preço; e qualquer um que aceite subir pela bajulação, fixará, com a sua conduta, o seu próprio preço e a sua escravidão.
Criança inconveniente
Não se pode cultivar isto nos filhos. “Brincar” com o filho é não levá-lo a sério, achar graça até nas coisas erradas que ele faz.
Há pais que parecem cegos diante dos problemas dos próprios filhos. Às vezes a criança está sendo inconveniente, incomodando todo mundo com os seus maus hábitos, de gritar, chutar, correr onde não pode, etc., e mesmo assim o pai e a mãe não tomam a mínima providência; ou, quando o fazem, não usam de autoridade, e, por isso, não têm sucesso.
Quantas vezes a criança irrita a todos, mas para os pais parece que tudo está bem; parecem cegos e surdos.
Se de um lado, é preciso ter certa tolerância com o comportamento da criança, por outro lado, não se pode permitir que ela ultrapasse os limites da própria idade. Há pais que são muito “moles” com os filhos, isto não é amor, é fraqueza que gera maus hábitos na criança.
Enfim, toda a vida da pessoa pode ficar comprometida por uma infância com excesso de proteção e falta de educação.
Quando os pais deixam de cumprir algo prometido aos filhos, eles perdem a confiança deles, e isto é muito mau. Por isso, não prometam nada aos filhos: viagens, passeios, presentes, etc, sem ter antes a certeza de que poderão cumprir.
Além de tudo, é um mau exemplo que amanhã a criança pode incorporar nos seus procedimentos.
Me lembro de uma vez em que eu chorei desconsoladamente quando eu era pequeno. Meu pai tinha uma fazenda e tinha comprado um cavalo pequeno que se chamava Mascote. Eu ficara incumbido de levar o Mascote para a nossa fazenda, montado nele, desde o sítio onde ele estava. Me parecia a maior aventura do mundo. Mas, no dia da grande aventura, da qual eu sonhara dias e noites, a decisão foi mudada, não sei porque, e eu não ia mais montar o Mascote e o levar para a fazenda.
Foi como se o céu desabasse sobre mim; me senti a criança mais triste do mundo. Ao meu redor, o mundo continuou o mesmo, mas eu estava inconsolável e ninguém compreendia a minha decepção. É assim a cabeça e os sonhos de uma criança; por isso, temos de ser sensíveis aos seus sentimentos e nunca lhes faltar com a menor das promessas feitas.
https://pt.aleteia.org/2021/10/03/como-fazer-para-nao-mimar-os-filhos/