O ensino bilíngue
Entrevista com Antonieta Megale, que coordena curso de pós-graduação em Didática para a Educação Bilíngue
Comentário Solar:
O tema do bilinguismo é cada vez mais prevalente. Desta forma, o ensino do inglês é uma preocupação nos colégios relacionados à Solar Colégios.
Por esta razão, seu ensino começa desde o projeto Optimist (educação infantil) com aulas diárias de inglês.
De momento é preciso ter presente que para o ensino de uma segunda língua existem três modelos: tradicional, imersão e bilíngue.
O modelo tradicional é o de duas aulas semanais de língua estrangeira (requerido pelo PNE).
O modelo bilíngue – tendo presente a grande variabilidade descrita pelo artigo – tem por principal característica a de utilizar uma língua estrangeira nas rotinas escolares. Não se trata de dar muitas aulas de um idioma estrangeiro, mas de ensinar as diferentes disciplinas nesse idioma.
No modelo de imersão – o que, neste momento, é o adotado nas escolas que tem a assessoria de Solar Colégios – a segunda língua é curricular nos 5 dias da semana.
Desta forma, o aluno vai sendo capaz de aprender a estrutura da língua estrangeira gradativamente, chegando ao final do fundamental II habilitado para receber o Cambridge English First (FCE), ou seja, a proficiência do nível intermediário superior de inglês.
No processo de ensino-aprendizagem de Inglês (ou de uma terceira ou quarta língua) os seguintes aspectos devem ser considerados:
1. Facilitar o máximo input linguístico para os alunos:
• Aulas em inglês.
• Predominância do método direto, aplicado de forma flexível. Aprendizagem de temas acadêmicos e culturais que permitam a aplicação do vocabulário dentro da escola.
• Promover a dedicação do tempo livre dos alunos para a leitura ou para a utilização de recursos audiovisuais e afins que permitam a ampliação do conhecimento.
2. Dar destaque a linguagem formal acadêmica. Importância da linguagem escrita, sobretudo da leitura, como base para o trabalho autônomo e individualizado. De acordo com isso se intensificará a utilização de textos expositivos e argumentativos, sem deixar, no entanto de utilizar também textos literário-criativos.
3. Ressaltar o caráter globalizador (sincrético) mais do que o analítico. Aprender a trabalhar com textos (compreensão e expressão). Partir do texto apreciado globalmente para seus elementos constitutivos.
4. Valer-se de uma metodologia eclética. Propor atividades comunicativas. Utilização de todos os tipos de técnicas que ajudem a alcançar os objetivos propostos, de forma que aquilo que pudesse parecer tedioso ou mecânico se transforme em meio de comunicação, jogo ou criatividade.
5. Deve-se dar um tratamento positivo ao erro, pois ele é um indicativo de que os alunos estão aprendendo. Nesse sentido é importante que procuremos:
• Mostrar em que se equivocaram e explicar o porquê.
• Orientar para a autocorreção.
• Mostrar exemplos positivos de como se diria ou faria aquilo.
6. Procurar que o aluno responda sempre de modo ativo ao que lhe é proposto. Ajudar a que fixem metas em cada atividade. Planejar tarefas que facilitem a concentração e que suponham um pequeno esforço.
7. Promover a formação de virtudes. Valorizar as tarefas bem acabadas, o cuidado com os detalhes, o trabalho cooperativo.
8. Estabelecer rotinas positivas cuja repetição será benéfica para os alunos, como por exemplo:
• Todo dia comentar brevemente sobre o tempo.
• Toda sexta-feira conversar sobre os planos para o fim de semana.
• Toda segunda-feira conversar sobre o que fizeram no fim de semana.
• Cumprimentar os alunos, sempre em inglês, ao encontrá-los pelos corredores do colégio.
Como em outras disciplinas, as estratégias escolhidas dependerão da experiência do professor com cada uma delas, mas sempre deverão estar integradas num contexto de formação integral do aluno.
Fonte: Tribuna do Planalto (GO)
Ter o domínio de mais de um idioma é tido cada vez mais como algo de grande importância para a formação. Seja para conseguir um bom emprego, aumentar o nível cultural, enfim, são muitos os benefícios. A procura por esse tipo de capacitação não está restrita apenas aos adultos, ao contrário, é cada vez mais comum a oferta de outro idioma também para crianças, já nos anos iniciais do ensino básico. Um tipo de prática, segundo a mestre em Linguística Aplicada, Antonieta Megale, que traz muitos benefícios à criança. “O aprendizado do vocabulário, sintaxe, fonologia, morfologia e registro de mais de uma língua proporciona às crianças bilíngues maior discernimento de seus processos cognitivos e estratégias de aprendizagem”, diz.
Apesar da crescente procura pelo ensino bilíngue, a oferta ainda esbarra na falta de professores qualificados no mercado para ensinar.
De acordo com Antonieta Megale, que coordena curso de pós-graduação em Didática para a Educação Bilíngue, as instituições de ensino superior precisam ficar mais atentas à essa necessidade, já que a procura por um curso que capacite o professor e o coordenador para o trabalho pedagógico em uma escola bilíngue é cada vez maior. Sobre estes e outros assuntos, a educadora falou com exclusividade nesta entrevista ao Escola.
Como pode ser definida a educação bilíngue?
Apesar do crescimento significativo das escolas de educação bilíngue no Brasil, não há nenhuma lei nacional que embase este tipo de educação. Essa falta de regulamentação nacional faz com que a própria definição do que é uma escola bilíngue se torne um tema bastante controverso. A expressão “educação bilíngue” é utilizada de maneira bastante abrangente no Brasil para caracterizar diferentes formas de ensino. Os modelos de educação bilíngue são variados e diferem quanto aos objetivos, à distribuição do tempo de instrução nas línguas envolvidas, às abordagens e práticas pedagógicas.
Há uma definição geral?
De forma geral, entende-se por educação bilíngue qualquer sistema de educação escolar no qual, em dado momento e período, simultânea ou consecutivamente, a instrução é planejada e ministrada em, pelo menos, duas línguas. No entanto, não se entende como educação bilíngue programas nos quais a língua adicional ou a língua estrangeira é ensinada como matéria e não é utilizada para fins acadêmicos, embora o ensino da língua adicional possa ser parte de um programa de educação bilíngue. Também se excluem, não somente os casos em que uma mudança de código linguístico ocorre no meio da instrução sem planejamento pedagógico adequado, mas também os numerosos exemplos de submersão, nos quais os alunos frequentam um programa ministrado na língua materna de um outro grupo e, dessa forma, têm sua língua ignorada pelo sistema educacional.
Dentre os diferentes modelos, qual é o mais utilizado no Brasil?
Em se tratando de educação bilíngue para crianças do grupo dominante, como, por exemplo, as escolas bilíngues português-inglês, que atendem quase, em sua totalidade, alunos de alto poder aquisitivo, o modelo mais comum no Brasil é o de imersão. Imersão significa simplesmente que um grupo de crianças falantes de uma certa língua materna recebe toda ou parte da instrução escolar por meio de uma língua adicional, no caso, o inglês. Como não há nenhuma lei nacional que embase a educação bilíngue no Brasil, a distribuição do tempo de instrução nas línguas envolvidas, as abordagens e as práticas pedagógicas variam consideravelmente.
Existe uma idade mais apropriada para que uma criança ingresse em uma escola com este modelo de educação?
Não há uma idade específica para que isso ocorra. Porém, é esperado que o aluno que ingresse mais tardiamente tenha mais dificuldade para compreender as aulas, como por exemplo, de matemática ou ciências, caso ele não tenha conhecimento da língua na qual as disciplinas são ministradas. Entretanto, uma escola com estrutura apropriada pode oferecer um programa adicional para que o aluno avance em seus conhecimentos da língua estrangeira utilizada naquele ambiente.
Além da familiaridade com dois idiomas desde muito cedo, quais são os outros benefícios da educação bilíngue?
Crianças bilíngues possuem maior capacidade de pensar sobre a língua, uma vez que ao serem expostas às duas línguas adquirem precocemente consciência de que as palavras são apenas arbitrárias e simbolicamente relacionadas aos seus conceitos. Por exemplo, saber que “dog” e “cachorro” são conceitos para o mesmo animal as levam ao entendimento que a palavra “cachorro” é apenas um símbolo arbitrário. Além disso, o aprendizado do vocabulário, sintaxe, fonologia, morfologia e registro de mais de uma língua proporciona às crianças bilíngues maior discernimento de seus processos cognitivos e estratégias de aprendizagem. Há também vantagens sociais e culturais evidentes. Saber duas línguas proporciona a esse falante a possibilidade de penetrar em diferentes culturas e ter acesso a conhecimentos não disponíveis em sua língua materna.
A estrutura necessária para que uma escola ofereça uma educação bilíngue é muito diferente da estrutura de uma escola convencional?
Como a escola tem que cumprir com o conteúdo exigido pelo MEC e oferecer disciplinas em língua inglesa também, ela precisa de um período maior de aula. Dessa forma, essas escolas são, em sua maioria, de período integral ou semi-integral. Com um número maior de aulas ministradas em língua inglesa, as crianças são expostas a um tempo maior de contato com o idioma, mais do que se estivessem em um curso particular, o que, de certa forma, ameniza uma das dificuldades que o ensino de línguas em escolas enfrenta, que é a maior quantidade de alunos dentro de sala de aula, quando comparadas a cursos particulares.
E como está a oferta de capacitação para os professores que desejam trabalhar nessa área de ensino?
Para suprir a lacuna existente na formação de professores para contextos de educação bilíngue surgem, embora a passos lentos, cursos de extensão e de pós-graduação no Brasil que assumem a função de formar esses profissionais, uma vez que os cursos de graduação parecem ignorar a crescente demanda por professores capacitados para atuar em escolas bilíngues. Desse modo, a procura por um curso que capacite o professor e o coordenador para o trabalho pedagógico em uma escola bilíngue é cada vez maior.