Educação Personalizada: nova esperança para o século XXI

O Prof. Cláudio Rigo, Diretor Geral do Colégio Catamarã Referência, em São Paulo, explica, numa simpática conversa com o leitor, o que é a Educação Personalizada e como ela pode ser a chave do sucesso para a educação do século XXI.

Veja abaixo:

Prof. Cláudio Rigo e o grupo de alunos vencedores num torneio de Xadrez

Veja abaixo:

Claudio Alberto Rigo da Silva – 24 de nov de 2015.

Como você tem reagido ultimamente quando alguém ao seu lado, entre amigos ou na reunião familiar, puxa o tema da educação? Por acaso sente um calafrio percorrendo a espinha? Então está tudo normal. Dada a penúria em que anda a educação nacional, esta é a sensação mais provável: não há muito de positivo a falar, o clima que se cria nas rodas de amigos e conhecidos é de reclamação generalizada e ninguém parece ter uma solução – pelo menos viável para os nossos filhos, que necessitam de uma boa escola já. Nada se faz com passes de mágica, mas gostaria de falar a você de um modelo educativo inovador, completo e eficiente. Vamos imaginar três cenários:

Cenário 1: Carlos Eduardo, de 11 anos, procura o seu Tutor – um professor que o acompanha, com conversas quinzenais, faz dois anos – para discutir o seu próprio Plano Pessoal de Melhora e as pequenas metas que se propôs nos estudos, no relacionamento em casa e com os amigos. O Tutor conversa com ele por meia hora, ajusta as metas e dá sugestões bem concretas dos meios que pode utilizar para melhorar nesses pontos. Na semana seguinte, o Tutor se reúne com os pais de Carlos Eduardo, e trocam ideias de como ajudar o seu filho a crescer nos mesmos pontos, alinhando os esforços do colégio e da família. Dessa conversa saem dicas de como, por exemplo, cuidar o ambiente de estudo em casa, melhorar a cooperação dos filhos nas tarefas do dia-a-dia e aumentar a interação com as outras famílias da classe. Os pais não estão recebendo um serviço que contrataram, mas reunidos com um professor que é também seu amigo, que está colocando o seu conhecimento profissional para que todos cresçam, Carlos Eduardo em primeiro lugar e também sua família.

Cenário 2: uma sala de aula, normalmente, é heterogênea no aproveitamento acadêmico: alguns são mais rápidos que outros, este tem mais facilidade com a escrita e aquele com a matemática, etc. O professor de matemática – poderia ser qualquer outra disciplina –, preparado para lidar com essas diferenças, sabe dosar as atividades e a exigência para que todos os alunos, tendo dificuldades ou facilidades para a matéria, se sintam desafiados e se mantenham interessados e trabalhando durante todo o ano. Ao que pode mais, pede mais, e ao mediano pede que se supere: sabe tirar de cada um o máximo que pode dar. No caso de Carlos Eduardo, ótimo aluno de matemática, o professor preparou para ele alguns exercícios extras, tipo desafio, para que os enfrente depois de terminar a lista que toda a classe deve fazer.

Cenário 3: os pais de Carlos Eduardo têm a grande preocupação de dar aos seus filhos uma educação religiosa e moral de acordo com as suas convicções. Vamos supor que sejam católicos praticantes, coerentes com a sua fé e cuidadosos em casa do conteúdo moral dos programas que os filhos veem na TV, dos livros que leem, do que acessam na Internet, etc. Agora imagine que o colégio tem a mesma preocupação e, portanto, esses pais, ao escolherem esse centro educativo, ganham um forte aliado na formação dos filhos em temas tão delicados.

Os cenários acima mostram aspectos centrais de uma educação realmente personalizada: promoção das virtudes em cada aluna ou aluno, a figura do tutor, cada um levado ao máximo de suas capacidades como pessoa, família e colégio trabalhando juntos. Está muito na moda atualmente falar de personalização da educação. Geralmente refere-se às técnicas e softwares que existem para identificar as lacunas acadêmicas de um estudante – por exemplo, que não domina as equações de 2º grau –, e então ajudá-lo a superar esse ponto fraco por meio de aulas e listas de exercícios ad hoc. Mas a Educação Personalizada aspira a muito mais, é verdadeira educação para a felicidade.

A Educação Personalizada é um projeto pedagógico que centra sua atenção na pessoa do estudante para ajudá-lo a preparar-se para a sociedade que ele mesmo necessita e deseja. Isso supõe a reorientação do processo formativo para dar toda a importância a cada aluna ou aluno, permitindo o desenvolvimento de suas potencialidades, sem tratar as crianças como multidão. Colocar a pessoa como fundamento da educação é propor-se a formá-la em todas as suas cinco dimensões: física, intelectual, volitiva, social-afetiva e transcendente.

Cada aluna ou aluno, em seu ser pessoa, é singular (único e criativo), autônomo (livre) e aberto ao mundo, ao próximo e a Deus (capaz de comunicar-se). Só uma educação completa é capaz de dar unidade a todos estes aspectos. A escola, dentro do espírito da Educação Personalizada, prepara oportunidades de aprendizagem e de formação que possibilitam aos estudantes desenvolverem ao máximo sua própria personalidade: tudo o que a aluna ou o aluno diz, pensa, sente e faz tem um valor e é reconhecido como tal.

O Tutor é a figura central em um modelo educativo personalizado: um professor que acompanha individualmente cada estudante, com entrevistas quinzenais, e sua família, em conversas bimestrais (como no Cenário 1). Todo trabalho acadêmico e formativo apoia-se em um diagnóstico e prognóstico de cada estudante: conhecendo-se bem as suas possibilidades e limitações é possível estabelecer um plano de trabalho, o Plano Pessoal de Melhora, com uma premissa básica: um rendimento não é satisfatório se pode chegar mais longe do que já chegou (como no Cenário 2).

Desde os anos do ensino infantil e à medida que crescem, as crianças desenvolvem hábitos, chamados virtudes, que dão a elas autodomínio e autodeterminação na busca do bem. Valores como ordem, obediência, generosidade, sinceridade, caridade, respeito, temperança, fortaleza, prudência, justiça, humildade, responsabilidade e alegria tornam-se parte integrante do seu caráter. E quais são os instrumentos que o colégio possui para levar a cabo essa formação? De modo sempre positivo e animador – já que com negações e tristeza não é possível educar –, o educador deve procurar incidir no uso da liberdade, no trabalho e na abertura aos demais dos seus alunos. Podemos dizer que o labor educativo se apoia em:

  1. a) Autonomia – Liberdade – Responsabilidade: ensinar a pensar por conta própria, a tomar decisões livres e responsáveis. Envolver os estudantes, de forma ativa, no seu próprio aprendizado: que saibam valorizar a verdade, que sejam pessoas de palavra e trabalhadoras, que em seu sentido de responsabilidade pessoal encontrem uma fonte de satisfação.
  2. b) A tarefa bem feita: no final das contas, é o que realmente educa. Educar é fomentar os desejos de trabalhar bem, de conseguir a perfeição das coisas bem feitas e de colaborar com todos na melhoria da sociedade.
  3. c) Compromisso social e solidariedade: promover a atitude de pensar sempre nos demais. Esse olhar completo sobre cada aluna e aluno vem sendo aplicado há mais de 50 anos em centenas de escolas em mais de 50 países. O movimento moderno da Educação Personalizada ganhou força no início dos anos 1960 com pais e educadores espanhóis, liderados por Víctor García Hoz, fundadores de Fomento de Centros de Enseñanza, entidade presente hoje em todo o mundo. É preciso “educar pessoa – dizia o Prof. García Hoz –,comopessoa, toda a pessoa – em todas as suas notas e dimensões – e cada pessoa, em seu ser peculiar, irrepetível e único: não cabe a mesma educação para todos”. O Colégio Catamarã (colegiocatamara.com.br) vem aplicando a Educação Personalizada, em São Paulo, desde 1995 e foi pioneiro nesse modelo educativo.

Não podemos deixar de falar dos principais atores na Educação Personalizada: os pais, primeiros educadores dos seus filhos, os que devem sempre levar o comando de todo o processo educativo, sendo que a escola tem a função de apoio a essa sua responsabilidade. O colégio sabe que sem a parceria dos pais pode fazer muito pouco, quase nada. Como o colégio pode apoiar fortemente os pais na sua responsabilidade educativa? Pode-se pensar em três formas: (1) dando uma formação acadêmica de excelência, e esse é um compromisso que a escola deve ter com as famílias; (2) orientando e apoiando a ação educativa dos pais, através da ação do tutor; (3) ajudando os pais a se prepararem para a sua missão educativa, por meio de cursos e palestras, já que normalmente nos preparamos muito bem para o trabalho profissional, nas faculdades mais exigentes, mas não fazemos uma pós-graduação para sermos mães ou pais.

Voltemos ao Carlos Eduardo, hoje um profissional respeitado na área de comunicação e pai de família, que deverá trazer o primeiro filho ao Catamarã no ano que vem. Pedi ao Cadu, como carinhosamente o chamo há anos, que resumisse a sua experiência de ter estudado em um colégio de Educação Personalizada, e ele me disse o seguinte: “O colégio me ajudou a forjar minha personalidade em sentido amplo. Além de ensinar-me o valor do esforço e do trabalho bem feito e de despertar-me hábitos intelectuais, aprendi no colégio o respeito à liberdade de todos e a importância do companheirismo e do verdadeiro carinho para com os demais”. É um bom resumo de tudo o que tratamos neste artigo.

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