Arthur M. Glenberg, professor of psychology and educational psychology at the University of Wisconsin-Madison, poses for a studio portrait March 13, 2007. Glenberg is a recipient of a Distinguished Teaching Award for 2007.
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Comentário Solar: O interessante trabalho de pesquisa da equipe do professor Glenberg reforça nossa linha de entendimento sobre a influência mútua que existe entre a atividade motora e as funções de ordem superiores, como são as funções cognitivas.

O ato de escrever, por exemplo, pode ser entendido como o resultado de um movimento preciso, ou seja, um ato motor. Mas, basear todo o processo da escrita somente nesse ato seria reduzi-lo a um puro mecanicismo. Sem dúvida, no processo da leitura-escrita, além dos aspectos motores estão envolvidos aspectos emocionais e intelectuais. No entanto, sabemos que o desenvolvimento psicomotor da criança é fundamental na aprendizagem da leitura-escrita.

O tratamento adequado do desenvolvimento das faculdades motoras representa um recurso privilegiado para o desenvolvimento eficaz das demais faculdades humanas: intelectuais, volitivas, estéticas etc. Sabe-se, atualmente que um elevado número de fracassos escolares está relacionado com transtornos ou déficits perceptivo-motores.

As aprendizagens escolares de leitura-escrita, como outras que também são perceptivo-motoras, exigem um alto nível de organização neurológica. Uma estimulação realizada no momento em que a maturidade da criança permita, contribui para uma adequada e satisfatória assimilação das aprendizagens.

Uma criança pode ainda não estar preparada para enfrentar com êxito a aprendizagem da escrita, uma vez que esta exige um domínio considerável do direcionamento, uma apurada coordenação motora fina, certo nível de coordenação óculo manual, independência segmentar das mãos e dedos. Mas, seu grau de maturidade pode permitir que ela realize atividades de manipulação com objetos diversos. Perfurar figuras com perfurador, colar, colorir, seguir ritmos, bater palmas, dedilhar, etc.

Além disso, Importa muito experimentar a grafia das letras, de forma que, sua realização tenha antes de qualquer coisa, uma memória corporal, motora.

Andar sobre a grafia de uma letra, escrita no chão pela professora. Percorrer a grafia das letras escritas o chão ou na lousa, utilizando carrinhos ou outros objetos. Passar o dedo indicador sobre uma letra recortada numa lixa. Efetuar a grafia de uma letra utilizando massa de modelar. Recobrir o traçado vazado de uma letra com bolinhas de papel. Tudo isso pode parecer – e de fato o é – uma brincadeira agradável para uma criança. Entretanto, estamos favorecendo que assimile o traçado das letras muito antes de serem apresentadas formalmente a elas. Esta estimulação multissensorial torna-se ainda mais rica quando é possível associar pequenas músicas ou versos que evoquem a letra que está sendo trabalhada.

Tudo isso, além de constituir por si só, um valioso exercício para a educação do movimento, facilitará a aprendizagem da escrita, uma vez que desenvolve pré-requisitos imprescindíveis para essa habilidade.

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Arthur Glenberg
Esbaldar-se na escola frequentemente é prelúdio de um telefonema do diretor para os pais. Mas, existem jeitos de dar vazão a toda essa energia que aumentam tremendamente o aprendizado; mais exatamente agir como uma forma de estabelecer contato, ou entender informações abstratas.

Existe um volume crescente de pesquisas que mostra o valor desse tipo de comportamento. Um exemplo é o programa de intervenção Moved by Reading (Movido pela leitura) que ensina a compreender a leitura.

Utilizando a intervenção, as crianças representam o significado de sentenças ao moverem imagens na tela de um computador. Se a criança lê: “O fazendeiro dirigiu o trator para o celeiro”, ela move imagens do agricultor para o trator e os dois juntos para o celeiro. Isso pode dobrar a compreensão da leitura.

Por que isso é importante? A leitura é fundamental para grande parte da educação de estilo ocidental. Não lemos apenas por prazer, mas fazemos isso para aprender nos campos de ciências, matemática, história e assim por diante.

Lamentavelmente, muitas crianças americanas não conseguem ler e ter boa compreensão. Em 2011, por exemplo, apenas 67% delas liam no nível básico ou o superavam na Avaliação Nacional de Progresso Educacional aplicada no quarto ano do ensino fundamental.

Educacionalmente benéfica essa liberdade de expressão é baseada na teoria da cognição incorporada. Frequentemente associamos cognição a algo cerebral; ou seja, como algo que ocorre no cérebro e tem pouco a ver com o resto do corpo. Mas a separação de mente e corpo é um mito.

Dennis Proffitt e seus alunos provaram que, nesse caso, a cognição humana (ou percepção), também leva em conta a capacidade física. Pessoas, por exemplo, julgam uma colina mais íngreme quando estão carregando uma mochila pesada ou quando estão doentes ou cansadas: quanto maior o esforço (seja para escalar um morro ou fazer uma caminhada mais longa) maior é a inclinação ou a distância julgada. Em outras palavras: as escalas perceptuais do sistema (ou medidas) de distâncias não ocorrem em metros, mas em termos de esforço físico. A distância escalada por esforço físico até desempenha um papel em algumas percepções baseadas culturalmente

Mas, o que isso tem a ver com a escola?

A teoria da cognição incorporada também nos diz que as abstrações, que são tão importantes para linguagem, matemática, física etc., são compreendidas ao fixar ou mapear o material abstrato em nossas experiências corporais.

Quando você lê a frase: “O fazendeiro dirigiu o trator até o celeiro”, por exemplo, você entende essa sentença ao aplicar suas experiências com agricultores, alguém dirigindo, e celeiros para simular a ação descrita na sentença. Notavelmente, compreender essa frase literalmente convoca áreas cerebrais que controlam os braços (para simular o ato de dirigir), a visão (qual é o aspecto de tratores quando estão em movimento), e muito mais.

Quando crianças estão aprendendo a ler, elas gastam uma enorme quantidade de tempo e esforço só para aprender a pronunciar palavras a partir de letras, um processo chamado decodificação. De fato, algumas crianças acabam acreditando que ler é apenas decodificar.

Quando uma criança envolvida no projeto Moved by Reading move a imagem do fazendeiro para o trator, ela não está apenas brincando. Em vez disso, a criança aprende a correlacionar o significado de substantivos (como “fazendeiro”) a fotos e, talvez mais importante, aprende a associar a sintaxe da frase (quem faz o que a quem) às suas ações corporais (como mover o fazendeiro e o trator). Desse modo, representar ensina a criança a como envolver grande parte de seu corpo e de seu cérebro no processo de compreensão de leitura.

Além disso, depois que as crianças aprenderam a mover fisicamente as imagens, elas podem ser ensinadas a imaginar movê-las. Ou seja, elas podem começar a fazer o mapeamento, ou a associação, das palavras a experiências por conta própria (sem o computador) e alcançar níveis semelhantes de compreensão.

Atuar, ou representar, não é apenas algo para crianças pequenas; o método também ajuda a compreender os chamados tópicos STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).

Uma compreensão profunda da equação para a força centrípeta (F= m*v2/r), por exemplo, requer uma simulação mental que envolve experiências de força, massa, velocidade e o raio de um círculo. É claro que se o aluno não tem as experiências corporais apropriadas, ou é incapaz de mapear os termos abstratos sobre essas experiências, ele não entenderá a equação para a força centrípeta, assim como uma criança que não tem noção do que é um trator não entenderá plenamente a frase sobre o fazendeiro.

O importante é que atuar, ou representar, pode ajudar a fornecer essas experiências corporais e mapeamentos. Em um experimento, alunos universitários aprenderam sobre força centrípeta atuando.

Se você não acreditar que aumentar r diminui a força, imagine que você está de patins correndo ao redor de uma pista circular. Para parar, você precisa agarrar uma corda curta ou uma longa que estão presas a um poste no centro do círculo. Qual corda gerará uma tração maior em seu braço enquanto você gira em torno do poste? A corda curta: a sensação será como se o seu braço estivesse sendo literalmente puxado para fora de seu encaixe. Com a corda longa, por outro lado, você dará uma volta mais suave e menos abrupta ao redor do poste. (E, se você usou sua imaginação para entender essas últimas frases, verá como “fixar” termos abstratos como força e raio em experiências físicas concretas, como patinar, pode gerar uma nova compreensão.)

Tipos apropriados de atuação ou representação também provaram que ajudam crianças no aprendizado de matemática. Quando confrontadas com um problema como “6 + 4 + 3 = ___ +4”, por exemplo, muitas crianças interpretam o sinal de igual como “some todos os números”, e elas colocaram 17 no espaço em branco.

Qual é a melhor maneira de ensinar aos alunos a estratégia de igualdade (ou seja, fazer com que a somatória dos dois lados seja igual)? Os pesquisadores ensinaram algumas crianças a dizer: “para resolver esse problema, eu preciso fazer um lado igual ao outro lado”. Outras crianças aprenderam a usar a mão esquerda para tampar o lado esquerdo da equação e a mão direita para tampar o lado direito; ou seja, igualar a equação por meio de gestos. Um terceiro grupo aprendeu as duas estratégias verbal e gestual para igualar os dois lados da equação.

Em um teste de longo prazo da aplicação da estratégia, as crianças que haviam aprendido a usar um gesto (sozinho ou em combinação com uma declaração verbal) lembraram melhor da estratégia que as que aprenderam apenas a declaração verbal. Existem até trabalhos que mostram que agir ou representar pode ajudar adultos a aprender a matemática de números complexos (que incluem um termo para a raiz quadrada de -1).

Todo o trabalho sobre a atuação/representação sugere que as salas de aula deveriam incluir mais atividades físicas destinadas a mapear informações abstratas em experiências físicas.

Essa sugestão se encaixa muito bem com alguns dos trabalhos recentes mais empolgantes em neurociência. Cientistas costumavam acreditar que o número de neurônios no cérebro pode diminuir (por exemplo, através de trauma ou um excesso de bebida alcoólica), mas nunca aumentar. Agora estamos bem convencidos de que (pelo menos em animais de laboratório) novos neurônios nascem — talvez até durante toda a vida. Eis aqui dois fatos surpreendentes sobre neurogênese. Primeiro, ela é aumentada por atividades físicas como correr. Segundo, ela ocorre no hipocampo, que é uma estrutura neural fortemente associada à memória em humanos. Portanto, se os resultados obtidos com animais de laboratório podem ser estendidos a humanos, pode muito bem ser que um corpo saudável literalmente produza uma mente saudável.

Arthur Glenberg é professor do Departamento de Psicologia da Arizona State University e professor emérito da University of Wisconsin. Ele e seus alunos têm pesquisado a abordagem da cognição incorporada desde a década de 90. Ele pode ser contatado no endereço garethideas AT gmail.com ou via Twitter em @garethideas.

Fonte: Sciam 22 de julho de 2014

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